sábado, 31 de janeiro de 2009

VICIOS INIMIGOS OCULTOS

A formula: “nos, os fiéis” contra “eles, os infiéis”, é parecida com a que diz: “faça o que digo e não faça o que faço”, ou à “parábola” do medico que prescreve ao paciente que pare de fumar, mesmo quando ele é um fumante inveterado.
O que é mesmo demência? Ah, sim, a diminuição progressiva das faculdades mentais, alienação mental etc. Alguma relação com aquelas pessoas que em um restaurante lotado, irritadas, devolvem o prato com o alimento pedido porque nele “enxergaram” algo que consideram anti-higiênico, enquanto eles mesmos, fumantes, ingerem quase 5.000 substancias tóxica a cada tragada?

Efeitos do fumo de cigarro: – O fumo do cigarro representa uma das mais importantes causas evitáveis de morte por doenças obstrutivas crônicas, carcinoma pulmonar e acidentes cardiovasculares, alem de ser responsável por numerosas complicações do aparelho gastro-intestinal, do sistema reprodutivo masculino e feminino, e da gestante ao longo da sua gravidez. A fumaça do tabaco é composta por mais de 4.500 substancias, cuja maior parte resulta ser extremamente danosa ao organismo humano. Entre estas o alcatrão, aquele resíduo gorduroso e escuro que é produzido pela combustão do tabaco que, acumulando-se nos pulmões, se torna à causa principal do câncer pulmonar, enquanto substancias como a acroleina, os fenóis e o acido cianídrico, são responsáveis pelas enfermidades pulmonares crônicas. A nicotina, contudo, não fica atrás: alem de ser a verdadeira responsável pela dependência farmacológica do fumo do cigarro, provoca alterações taquicardiacas graves, é vasoconstritora, e é a substancia que causa hipertensão arterial e a degeneração dos vasos sanguíneos.
Alem disso, o chamado “fumo passivo”, também foi sobejamente demonstrado que é muito danoso para as pessoas que são obrigadas a inalá-lo; as crianças a ele expostas, por exemplo, manifestam um incremento das infecções do aparato respiratório, e em certos casos chegam a predispor um aumento da prevalência de asma dos brônquios; os adultos asmáticos, ao contrario, são levados a situações que não só passam a exigir o uso de corticoides, mas internações hospitalares.
Segundo uma das mais recentes estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de um terço da população mundial dedica-se ao tabagismo, e este é incriminado por cerca de 2 milhões de mortos anualmente. Existe uma estreita correlação entre os dependentes do cigarro e os expostos á fumaça deste, com o aumento da mortandade, que por sua vez está relacionada à idade em que se começou a fumar, ou inalar indiretamente o fumo, e ao numero de anos que esta pratica foi mantida. Nos últimos anos foi demonstrado que á suspensão do fumo, corresponde uma evidente redução do incremento de mortalidade. Estas observações, agregadas a inúmeros estudos clínicos e experimentais, indicam que o fumo é responsável pelo aumento da mortalidade por vícios voluntários.

No aparato respiratório: - O fumo de cigarro reduz as defesas mecânicas e biológicas do aparato respiratório, expondo assim os fumantes a uma maior freqüência de infecções respiratórias. Ele ainda pode alterar a estrutura, bem como a função pulmonar, porque provoca a hipertrofia, que é o aumento dos volumes das glândulas da mucosa dos brônquios, aliada a uma destruição progressiva do aparato muco-ciliar, aparato este destinado a remover os eventuais agentes estranhos e resíduos celulares que são à base das infecções respiratórias.
Esta condição, do ponto de vista da sintomologia, provoca tosse com emissão de expectorante mucoso - às vezes mucopurulento - por três meses ao ano e por dois anos consecutivos, em outras palavras, uma bronquite crônica causada por infecção bacteriológica pregressa.
Estas alterações clinico-funcionais, determinam em breve tempo uma acelerada redução do volume expiratório máximo no primeiro segundo (VEMS), ou seja, o volume máximo de ar que um individuo pode aspirar través de um ato expiratório forçado, no primeiro segundo após os pulmões terem atingido a plena capacidade de contenção de oxigênio, o que significa que as vias aéreas que controlam o maior volume de ar que penetra no sistema respiratório está em estado precário.
O declínio desta função respiratória depende da quantidade de cigarros fumados, ou, esclarecendo melhor, mais cigarros são fumados, mais evidente é o risco de deflagrar uma bronquite crônica. Essa redução da função respiratória causa, no tempo, uma lenta destruição dos espaços aéreos distais dos bronquíolos - ramificações terminais dos brônquios - enfisemas. Esta enfermidade determina uma progressiva dificuldade respiratória – dispnéia - a qual o paciente na fase inicial não da importância, mas que, depois de um longo período de tempo, ou para definitivamente de fumar, ou se transforma em uma insuficiência respiratória crônica que passa a exigir oxigenoterapia domiciliar.
Fumar, então, provoca o envelhecimento precoce do aparato respiratório, enquanto a eliminação do vicio garante uma gradual regressão dos sintomas respiratórios, mas, sobretudo, a recuperação da função pulmonar. Em verdade, só depois de um mês é que a tosse começa a declinar assim como a dificuldade respiratória, enquanto a respiração sibilante tende a desaparecer totalmente depois de seis anos. Os benefícios, todavia, não se encerram aqui. Passados dez anos do momento em que se parou de fumar, o risco de surgimento de neoplasias nas vias aéreas se reduz à metade.

No aparato cardiovascular: - O fumo de cigarro é responsável pelo aparecimento precoce no aparato cardiovascular da cardiopatia isquêmica, que representa, com a hipertensão e a deslipidemia, um importante fator de risco que o individuo pode eliminar abandonando o vicio. Existe uma estreita correlação “dose-dependente” entre o fumo de cigarro e o surgimento da cardiopatia isquêmica.
Nos machos fumantes o risco de cardiopatia isquêmica é maior de 60%-70% em relação aos não fumantes.A primeira manifestação da cardiopatia isquêmica, nos indivíduos com pré-disposição, pode até ser a morte improvisa, e a probabilidade que esta aconteça, nos fumantes mais jovens, é entre duas a quatro vezes mais elevada em relação aos não fumantes.
As mulheres fumantes também têm um risco maior de desenvolver a cardiopatia isquêmica em relação às não fumantes, e quando estas utilizam ao mesmo tempo contraceptivos orais, particularmente as maiores de 35 anos, o risco aumenta em cerca de dez vezes.
Alem disso, quem continua fumando depois de um enfarte agudo do miocárdio, tem uma probabilidade de morte por cardiopatia isquêmica muito maior em relação aos que param definitivamente de fumar.
O fumo do cigarro, devido à nicotina - um potente alcalóide dotado de propriedade taquicartizante e vasoconstritora - reduz o fluxo coronário, favorece a arteriosclerose coronária e os eventos coronários agudos do tipo isquêmico, trombotico e arrítmico.
Alguns estudos epidemiológicos elaborados em larga escala demonstraram, seja nos homens como nas mulheres, um aumento do risco de eventos cérebros-vasculares nos fumantes em relação aos não fumantes. Entre as mulheres, um importante evento cérebro-vascular como a hemorragia subaracnóidea, se verifica maiormente entre as fumantes em relação às não fumantes, sendo que o risco mais uma vez aumenta acentuadamente quando há associação do fumo com o uso de contraceptivos orais.
O fumo de cigarro agrava ainda a isquemia periférica, a que acontece nos membros inferiores, e pode ainda interferir negativamente no caso da implantação de um by-pass periférico.
O percentual de mortandade devido a aneurisma na aorta de origem arterioesclerotica, é maior nos homens fumantes em relação aos não fumantes.
O fumo de cigarro, ainda, devido à nicotina, como vimos uma substancia taquicartizante e vasoconstritora, representa um importante fator de risco também para o surgimento da hipertensão.
Nos indivíduos hipertensos que fumam, alem disso, o risco de surgimento de graves problemas no aparato gastroenterologico, da hipertensão maligna e de decessos por hipertensão, é muito maior em relação aos hipertensos que não fumam.
O fumo de cigarro induz os indivíduos fumantes, em relação aos não fumantes, a uma maior prevalência de ulcera gástrica e duodenal, pela qual a mortalidade pela complicação mais seria, a hemorragia gástrica, é por redundância muito maior entre os homens fumantes do que nos não fumantes.
O fumo retarda a cura espontânea e farmacológica da ulcera gastroduenal, aumenta a probabilidade de reincidência desta mesma ulcera, inibe a secreção pancreática dos bicarbonatos e reduz o tônus dos sfinteros pilóricos e esofágicos, predispondo assim à “síndrome do refluxo gastresofágico” caracterizado pela sensação de queimação retrosternalpirose – que é a regurgitação acida e eructação.
O fumo, enfim, provoca o surgimento de uma importante enfermidade inflamatória crônica, a doença de Crohn, que envolve a ultima seção do intestino tênue, o íleo, em muitos casos conhecido como “íleo terminal”.

No aparato reprodutivo masculino e feminino: - O fumo de cigarro no aparato reprodutivo masculino, em médio prazo, representa – somado ao stress e ao excessivo consumo de bebidas alcoólicas - um importante fator de risco para a disfunção erétil. Enquanto os efeitos do fumo de cigarros no aparato reprodutivo feminino induzem, no tempo, através dos hidrocarburos aromáticos policíclicos, à morte prematura dos óvulos e das células uvárias prepostas à fecundação, impedindo de vez o regular processo de fecundação.
Pode-se afirmar, com certeza, que as mulheres fumantes são geralmente menos férteis das não fumantes, e alem disso, a menopausa, ou seja, o período em que se verifica a ultima menstruação - indicando o fim do inteiro ciclo reprodutivo da mulher - acontece cerca de cinco anos antes da idade media que se situa por volta dos 48 anos, antecipando, portanto, aqueles sintomas que tanto aborrecem e preocupam, que são as chamadas ondas de calor, sudoração, palpitações, vertigens, depressão, deslipidemia, hipertensão arterial sistólica e osteoporose.

Em relação à gravidez: – O fumo de cigarro pode retardar a concepção e durante a gravidez pode interferir negativamente no desenvolvimento do feto. Durante a gestação, o fumo de cigarro pode provocar a gravidez ectópica, ou seja, extra-uterina, que se traduz em más formações fetais, abortos espontâneos, morte do feto intra-uterina e síndrome de morte improvisa do recém nascido.
Este ultimo aspecto aumenta acentuadamente se a gravidez já era de alto risco por outras causas como a cardiopatia congênita, diabete gestacional, deslipidemias mesmo familiares, e hipertensão sistólica e distólica.
O peso dos recém-nascidos gerados por mães que fumam durante a gravidez é menor, mediamente em 200 gramas, em relação aos que nascem de mães que não fumam durante a gestação. Esta é provavelmente uma conseqüência da reduzida circulação no útero placentar. Fumar durante a gravidez pode interferir negativamente ainda no desenvolvimento psicossomático da criança.

Rins
Coração
Ossos
Pênis
Bexiga
Sist.Reprodutivo
Sist. Circulatório
Ap.Digestivo
Pulmão
Nariz
Laringe
Boca
Cérebro
As enfermidade provocadas pelo fumo de cigarro
Infarte do miocárdio – Angina pectoris – Hipertensão – Arteriosclerose - Acidente vascular cerebral – Tromboangeite obliterante - Bronquite crônicaEnfisema pulmonar – Gripe – Pneumonia por Legionella pneumophila – Pneumonia por Branhamella catarrhalis – Pneumonia a colesterol – Tuberculose - Câncer do pulmão – Câncer de boca – Câncer da faringe – Amidalite - Otite - Sinusite - Morte súbita – Sindactilia - Estrabismo – Lábio leporino - Prenhez tubária – Aborto – Descolamento precoce da placenta – Placenta previa – Diabete – Periodontite - Câncer da laringe - Câncer do esôfago – Câncer do estomago – Câncer do pâncreas – Câncer da bexiga – Câncer dos rins – Leucemia mieloide – Câncer do colo do útero – Câncer da mama – Doença de Crohn (Mycobacteria paratuberculosis) – Ulcera do estomago – Ulcera do duodeno – OsteoartriteOsteoporose – Catarata – Estomatite - Bronquite – Pneumonia – Câncer da pleura – Aneurisma da aorta – aneurisma abdominal – Câncer da próstata - Câncer do intestino – Câncer do retoLinfomas – Menopausa precoce – Derrame suboracnoide na mulher com associação de anovulatorios.

Alcoolismo : - O alcoolismo é a terceira causa de mortes no mundo, atrás somente do câncer e das doenças cardíacas. Contudo, por se tornar um problema familiar, acaba sendo muito mais abrangente. Por isso o alcoolismo é hoje considerado um grave problema de saúde pública.
Em uma de suas entrevista o Dr. Drauzio Varella perguntou ao Dr. Carlos A. Pastore, medico cardiologista do Incor: como você orienta seus pacientes quanto á ingestão de álcool? “Peço sempre moderação”, respondeu o entrevistado, porque mesmo o vinho que em pequenas doses pode trazer algum beneficio para o colesterol e o coração, deve ser ingerido com parcimônia, porque há outros órgãos, como o fígado e os intestinos, que reagem negativamente ao álcool. Alem disso, o álcool é altamente calórico, portanto, desaconselhável para quem não pode engordar.

Bebida
Quantidade
Calorias
Vermute
(30 ml)
44 cal
Sidra
(100 ml)
50 cal
Kir
(150 ml)
50 cal
Vodca
(30 ml)
72 cal
Vinho do Porto
(50 ml)
74 cal
Martini Bianco
(50 ml)
77 cal
Vinho branco seco
(50 ml)
85 cal
Vinho branco doce
(100 ml)
140 cal
Coquetel de frutas com álcool
(200 ml)
155 cal
Cuba-libre
(240 ml)
170 cal
Daiquiri
(100 ml)
200 cal
Rum
(100 ml)
230 cal
Caipirinha de limão
(100 ml)
171 cal
Gim
(30 ml)
60 cal
Cherry
(50 ml)
68 cal
Uísque
(30 ml)
72 cal
Martini Rosé
(50 ml)
78 cal
Cerveja
(200 ml)
84 cal
Vinho tinto seco
(100 ml)
84 cal
Champagne
(85 ml)
85 cal
Licor de cacau
(30 ml)
103 cal
Licor de menta
(30 ml)
103 cal
Licor de cassis
(30 ml)
103 cal
Licor de chocolate
(30 ml)
103 cal
Licor de amêndoas
(30 ml)
108 cal
Chope
(300 ml)
120 cal
Em relação à cerveja existe um estudo elaborado pelo Dr. Lester Hankin em cooperação com a “The Connecticus Agricultural Experiment Station e o Excise Tax Divisios of Revenue Service” que concluiu que em relação a 202 amostras de cervejas, cujo índice médio de calorias situou-se em 32 Kcal por 100 ml. - o leque se estendeu entre 19 a 43 Kcal - as de tipo Ligth tinham mediamente uma redução de 27%.

No Brasil, o alcoolismo é o terceiro motivo para faltas e a causa mais freqüente de acidentes no trabalho. Segundo a Associação dos Estudos do Álcool e Outras Drogas, de 3 a 10% da população brasileira fazem uso abusivo do álcool. A doença é a oitava causa de concessões de auxílio-doença e os problemas direta ou indiretamente relacionados ao uso da substancia consomem de 0,5% a 4,2% do PIB.
Diversos fatores podem contribuir para a tendência ao abuso crônico do álcool e de outras drogas, e estes fatores: genéticos, biológicos, psicológicos e socioculturais, interagindo, em maior ou em menor grau, se responsabilizam pela origem da dependência química.
Os sintomas que compõem o alcoolismo se agravam e se intensificam ao longo da vida do doente. O alcoólatra inicia sua carreira como bebedor social na idade jovem, hoje por volta dos 15/16 anos, e perto dos 30 anos evolui para a condição de bebedor pesado ou bebedor problema, quando apresenta conseqüências físicas ligadas ao álcool - pancreatites e cirroses hepáticas. É também nessa fase que surgem problemas conjugais, sociais, legais, financeiros e de relacionamento. Usuários de álcool nesta fase também são mais propensos a acidentes de trânsito, problemas psicológicos, violência, homicídios, suicídios, e ocupacionais: afastamento, faltas ao trabalho, atrasos, problemas de relacionamento, indisciplina, queda de produtividade, acidentes de trabalho.
Na segunda metade da terceira década de vida, ou a partir da quarta década, tem-se instalada a síndrome de dependência alcoólica.
O alcoolismo é mais comumente encontrado em algumas ocupações, sobretudo naquelas socialmente desprestigiadas, quando as possibilidades de ascensão profissional são restritas. Fatores de risco profissional em relação ao alcoolismo são a disponibilidade do álcool enquanto se trabalha, pressão social para beber, ausência de supervisão ou chefia e situações de tensão ou perigo. Condições de trabalho que produzem estresse podem induzir ao alcoolismo como forma de aliviar a ansiedade. Profissões de alto risco de abuso de álcool são essencialmente associadas ao sexo masculino, e as de baixo risco ao sexo feminino, segundo pesquisa da universidade americana John Hopkins que analisou associações entre álcool e 101 ocupações. Mas o maior fator de risco para o alcoolismo é o desemprego.
Aparentemente, algumas características identificam trabalhadores com problemas de alcoolismo: faltas freqüentes, especialmente em dias que antecedem ou sucedem fins de semana e feriados, atrasos após o almoço ou intervalo, queda na produtividade, desperdício de materiais, dificuldade de entender novas instruções ou de reconhecer erros, reação exagerada às críticas, variação constante do estado emocional.
Fonte: Livro “Alcoolismo no Trabalho” de Magda Vaissman, publicado pela Editora Fiocruz

O tema do alcoolismo foi incorporado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) à Classificação Internacional das Doenças em 1967 (CID-8), a partir da 8ª Conferência Mundial de Saúde. No entanto, essa questão não pode ser vista apenas como um fato cronológico. A questão do impacto sobre a saúde provocado pelo abuso do álcool já vinha sendo objeto de discussão pela OMS desde o início dos anos 50, compondo um processo longo de maturação - que até hoje ainda é objeto de contendas médico-científicas. Consta que em 1953 a OMS, através do seu Expert Comittee on Alcohol, já havia decidido que o álcool deveria ser incluído numa categoria própria, intermediária entre as drogas provocadoras de dependência e aquelas apenas formadoras de hábito - OMS Technical Repport 84,10 1954 - no entanto, os efeitos do álcool têm inúmeras faces, e entre estes as drogas.

Não há dúvida de que a porta de entrada da dependência é o álcool, garante o chefe do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas (Grea), da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, professor Arthur Guerra de Andrade. Como a bebida é socialmente aceita, as doses a mais raramente são consideradas um problema, mas apenas um deslize passageiro. Esse desprezo é incorreto e perigoso, garantem especialistas. Principalmente quando o exagero ocorre na adolescência.
Pesquisa da professora Sandra Schivoletto, em São Paulo, demonstra que o álcool “é a primeira droga usada por adolescentes”. Pelo levantamento, o primeiro contato com a bebida ocorre, em média, aos 11 anos, o do cigarro aos 12, a maconha mediamente aos 13 anos e o da cocaína aos 14 anos.
Além de o contato com a bebida ser mais precoce, a relação que o adolescente estabelece com ela também causa preocupação. Grande número de jovens vincula o consumo de bebidas ao lazer. “Associar o álcool ao amadurecimento e ao prazer são atitudes que acabam levando ao abuso”, afirma Sandra.
Outro aspecto fundamental é a facilidade de acesso à bebida. Embora a sua venda seja proibida para menores de 18 anos, em todos os pontos do País existem locais onde jovens compram e ingerem álcool livremente. “A cultura de que os encontros têm de ser regados com bebidas alcoólicas aumentou de forma considerável nos últimos anos e os jovens, para se sentirem integrados, acabam adotando esse mesmo habito” diz Andrade.
Os especialistas advertem que os perigos são muitos, principalmente quando se leva em conta também o metabolismo de pessoas mais jovens. “Os efeitos são potencializados”, garante Sandra. Para os médicos, nem todas as pessoas que durante um certo período abusaram da bebida sofrerão problemas ao longo da vida. Mas o risco é alto.

“Os estudos revelam que, por ser a adolescência uma fase de experimentação, fica mais fácil o contato com outras drogas”, garante Sandra. Andrade concorda: “Pessoas que desenvolvem dependência apresentam algumas características comuns, que vão de fatores biológicos a problemas emocionais”.E conclui: “È por essa razão que os cuidados com o álcool têm de ser redobrados na adolescência”.

Na Itália, uma pesquisa realizada pela ASAPS trouxe à luz outra conseqüência do álcool: os incidentes que acontecem nas noites de fim de semana, ou seja, entre as 24:00 horas do sábado até as 7:00 do domingo de manhã e no mesmo horário do domingo até a segunda feira. Este levantamento levou em conta os dados oficiais disponíveis relativos a 2003.
Na faixa de sete horas entre sábado a noite e o domingo de manhã, só nas estradas extra-urbanas contaram-se 4.285 acidentes sobre um total de 9.042 da semana inteira, ou seja, 47,38%. Nestas duas noites somaram-se 457 mortes que equivale a 50,77% do total de 900, sendo 221 na noite de sábado, correspondendo a 24,55%, e 236 na noite de domingo, ou seja, 26,22%.
Os feridos, nestas mesmas noites e nos mesmos locais, foram 7.768, que correspondem a 52,26% do total de 14.863. Em relação aos feridos a situação é similar porque em uma só noite entre o sábado e o domingo se contabiliza uma terceira parte dos feridos de todas as noites da semana. O que salta aos olhos é que a grande maioria dos acidentes é provocada por jovens abaixo dos 30 anos.
Se for considerado que nestas noites há um escasso transito de veículos comerciais e industriais, torna-se ainda mais evidente a taxa de risco que tem origem no álcool e no cansaço.
Nesse país, segundo as estatísticas do ISS, são cerca de 900.000 os jovens com menos de 16 anos que habitualmente bebem cerveja, vinho ou outras bebidas alcoólicas. Calculam as autoridades italianas que os superjovens, os consumidores de álcool os que tem entre 14 a 16 anos, devam ter aumentado de 781.000 em 1998 para 870.000 em 2001. Entre estes últimos, entretanto, quem mais consome são as moças, que passaram de 35,75% em 1998 para 41,6% em 2001.
No mesmo período entre os rapazes, os consumidores aumentaram de 46,2% para 51,6%, e a idade em que os jovens começam a consumir bebidas alcoólicas na Itália é a mais baixa da Europa: apenas 12 anos. Uma idade na qual o organismo é particularmente frágil diante dos danos que o álcool pode causar, e que, como confirmaram estudos recentes, poderão causar sérios transtornos de saúde na idade madura.

No Brasil, uma pesquisa inédita realizada no Estado de São Paulo, revelou um quadro que pode ser a conseqüência dó que acabou de ser dito. Entre os homens de 35 a 59 anos, as doenças do fígado foram à segunda causa de morte no triênio 2000-2002. Só perderam para enfermidades isquêmicas do coração - especialmente os infartos do miocárdio. E entre estas o álcool foi responsável por pouco mais da metade delas. De 1996 a 2002, as mortes por álcool sofreram um acréscimo de 14,8%, contra uma queda de 21,4% nas outras mortes causadas por enfermidades diferentes deste órgão.
Na região de Ribeirão Preto, no período estudado, morreram, por doenças do fígado causadas pelo álcool, 44,3 indivíduos em cada grupo de 100 mil homens de 35 a 59 anos, enquanto no extremo oposto está São José do Rio Preto, com 15,4 mortes em relação ao mesmo grupo. A diferença pode estar no descuido médico ao preencher o atestado de óbito, mas, sobretudo, no número de alambiques e no baixo preço da cachaça na região de Ribeirão.
A pesquisa foi realizada pela Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), que recebe os atestados de óbito via cartórios. A mortalidade pelo álcool chamou a atenção dos pesquisadores. "Estávamos acostumados a falar em mortes violentas por câncer em crianças e velhos, mas não por doenças do fígado e na população que costuma ser responsável pela manutenção da casa", diz Cecília Polidoro Mameri, analista da Fundação Seade.

Outro ingrediente do aumento contínuo pode estar na crise econômica que leva ao desemprego, à depressão, e depois aos bares como único local de lazer. O beber contínuo e pesado leva a uma perda de apetite, o que resulta em alimentação precária por deficiência de nutrientes. “Alguns vão morrer por outras decorrências do alcoolismo”, lembra Rute Godinho, analista da Seade.
Neste estudo, o terceiro lugar nas causas de morte na faixa dos 35 aos 59 anos é o homicídio, seguido de doenças cerebrovasculares e acidentes de transito – e o álcool pode estar por trás de boa parte deles, lembram os pesquisadores.
“Quem bebe freqüentemente, e pesado, não chama a atenção”, diz o Dr. Sergio Mies epatologista do Hospital das Clinicas paulistano e chefe da equipe de transplante do Albert Einstein. O maior responsável pelos acidentes de transito e agressões é quem bebe ocasionalmente grandes quantidades. Segundo Mies, o beber crônico consiste em 60 gramas diárias de álcool para as mulheres e 80 gramas para o homem. Equivale a três doses de destilado – pequenas - ou três latinhas de cerveja para as mulheres, e quatro doses de destilado ou quatro latinhas para os homens.
Pelos dados do levantamento, as regiões com maior número de mortes por doenças do fígado causadas por álcool depois de Ribeirão Preto são Marília - 29,7 mortes por 100 mil homens adultos- e Bauru - 29,2. Somando-se as mortes por todas as doenças do fígado, a região de Bauru fica em primeiro (78,8), com Araçatuba no outro extremo (41,9). As taxas da Grande São Paulo e do Estado ficam em torno de 63 por 100 mil.
O levantamento feito pela Fundação Seade também lista as principais causas de morte entre homens de todas as idades. As doenças isquêmicas do coração continuam em primeiro lugar, em segundo vêm os homicídios e em terceiro lugar os males cerebrovasculares. As doenças do fígado aparecem em sétimo lugar no ranking.
Entre as mulheres de todas as idades o coração também lidera, enquanto o diabetes aparece em quinto lugar tanto entre as mulheres de 35 a 50 anos, como entre toda a população feminina do Estado.
Quando as doenças do fígado atingem estados avançados a única solução é o transplante. Segundo Sérgio Mies, que coordena o programa de transplante de fígado do hospital Albert Einstein, o tempo médio de espera é hoje de três anos, assim, 55% morrem antes de chegar a sua vez de recebê-lo.
"As doações de órgão vêm aumentando, mas as filas e as mortes estão crescendo muito mais rapidamente”, diz o medico.
Sabe-se, com a pesquisa da Seade, que o álcool é responsável por pouco mais da metade de todas as mortes por doença do fígado entre homens de 35 a 59 anos. Para as mulheres dessa faixa etária, as doenças do fígado ocupam o oitavo lugar entre as causas de morte.
O consumo diário e pesado de álcool ao longo de oito a dez anos causa cirrose hepática. As células normais viram cicatrizes e a doença torna-se irreversível.
O álcool também pode causar inflamações no fígado - hepatite alcoólica - e o acúmulo de gordura no órgão. Mas também a hepatite B - que tem vacina - e a hepatite C - que não tem imunizante - podem causar as mesmas doenças.
Os médicos ainda alertam que a cirrose hepática pode levar a um câncer. "Muitos morrem antes da chegada do câncer", diz. A cirrose pode aumentar a pressão nas veias do intestino ou gerar varizes no estomago capazes de levar à morte por sangramento.

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